Professor José Hermógenes e sua inspiração…

"Se, ao final desta existência,
 
Alguma ansiedade me restar
 
E conseguir me perturbar;
 
Se eu me debater aflito
 
No conflito, na discórdia...

 
Se ainda ocultar verdades
 
Para ocultar-me,
 
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas…
 
Se restar abatimento e revolta
 
Pelo que não consegui
 possuir, fazer, dizer e mesmo ser...

 
Se eu retiver um pouco mais
 do pouco que é necessário
 
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo…
 
Se algum ressentimento,

 algum ferimento
 
Impedir-me do imenso alívio 
que é o irrestritamente perdoar,

 E, mais ainda, 
se ainda não souber sinceramente orar
 
Por quem me agrediu e injustiçou...

 
Se continuar a mediocremente
 
Denunciar o cisco no olho do outro
 
Sem conseguir vencer a treva e a trave
em meu próprio...

 
Se seguir protestando 
reclamando, contestando,
 
Exigindo que o mundo mude 
sem qualquer esforço para mudar eu...

 
Se, indigente da incondicional alegria interior,
 
Em queixas, ais e lamúrias,
 
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
 
Para a minha ainda imperiosa angústia...

 
Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,

precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende...

 
Se insistir ainda que o mundo silencie
 
Para que possa embeber-me de silêncio,
 
Sem saber realizá-lo em mim...

 
Se minha fortaleza e segurança
 
São ainda construídas com os materiais
 
Grosseiros e frágeis
 que o mundo empresta,
 
E eu neles ainda acredito...

 
Se, imprudente e cegamente,
 
Continuar desejando 
adquirir,
 multiplicar, 
e reter
 valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
 
na ânsia de ser feliz...

 
Se, ainda presa do grande embuste,
 
Insistir e persistir iludido
 
Com a importância que me dou...

 
Se, ao fim de meus dias,
 
Continuar
sem escutar, sem entender, sem atender,
 
Sem realizar o Cristo, que,
 
Dentro de mim, 

Eu Sou,
 
Terei me perdido na multidão abortada
dos perdulários dos divinos talentos, 
Os talentos que a Vida
 A todos confia,
 
E serei um fraco a mais,
 
Um traidor da própria vida,
 
Da Vida que investe em mim,
 
Que de mim espera
 
E que se vê frustrada 
diante de meu fim.

 
Se tudo isto acontecer
 
Terei parasitado a Vida  

E inutilmente ocupado
O tempo

E o espaço 
De Deus.
 
Terei meramente sido vencido

Pelo fim,

Sem ter atingido a Meta."

Poema "Se", que é narrado pelo ator Carlos Vereza no final do documentário "Deus me livre de ser normal" sobre o Mestre e Professor de Yoga José Hermógenes . Veja neste trecho do filme:

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